Céu
Entre carneirinhos, elefantes, cabelos de anjos, lá estava
ela, a bruxa, pesada, cinzenta, sinistra. Montada na vassoura pairando justo
sobre uma favela. Depois, na tevê: barracos desabando, não se sabe quantos
desabrigados, fome e frio.
Sobre o céu, havia muitas
histórias. Por exemplo, os índios. Contavam sobre como o céu ia cair e algum
guerreiro conseguiu, com artes ancestrais e mirabolantes, mantê-lo de pé. Mas a
melhor história de céu é que as pessoas – as boas, claro – depois que morrem
vão para lá. Há céu para todos: céu de cachorro, céu dos passarinhos.
Cachorro e passarinho precisam
ser bons para ir para o céu? E árvore? No céu sempre tem árvore. Árvore vai
direto para o céu. Árvore é boa ou má? Ou precisa ser santo para ir para o céu?
Ou precisa ser árvore?
As coisas eram ocas. Ocas e
porosas. Viver é perigoso? E pensar? A vida às vezes tem um insuportável cheiro
de feijão. O existir, uma peneira velha. Oca. E porosa. Escorrendo pensamentos
inúteis por todos os lados.
Na pintura, começa-se um quadro pelo céu.
E se o quadro não tiver céu?
E se a gente não tiver céu?
E se o céu não tiver céu?
E se não tiver céu?
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