Friday, October 03, 2008

“Eu mereço!” – comentários sobre a política carioca

Às vésperas das eleições municipais, as coisas não são muito animadoras na cidade do Rio de Janeiro: “homens(e mulheres)-placa” espalhados pelos quatro cantos, desrespeitando o espaço de livre circulação dos transeuntes; horário eleitoral gratuito na tevê com baixo índice de audiência; candidatos com ficha suja, respondendo a processos na justiça; eleitores sendo ameaçados e intimidados, entre outros absurdos. O JB de hoje estampou a notícia: mesmo com a candidatura a vereadora anulada por estar presa no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, Carminha Jerominho continua sendo vista e ouvida nas gigantescas placas de campanha e nos carros de som que infestam a área controlada por ela, por seu pai, Jerominho Guimarães, e por seu tio, Natalino Guimarães – também políticos e também custodeados atrás das grades, no caso, “Bangu 8” (pelo andar da carruagem, o “Bangu 9”, o 10, o 11 não demorarão muito a chegar...).
A disputa pela prefeitura a cada dia está mais indecisa. Quem irá para o segundo turno? (haverá “segundo turno”?). O uso do horário eleitoral pelos candidatos ao cargo de prefeito é lamentável, para não dizer desastroso. Crivella, por exemplo, em vez de apresentar ele mesmo seu programa de governo, coloca alguém, pretensamente identificado com as “comunidades”, para dar seu recado. As poucas vezes em que ele falou foi para dizer que “não era frouxo”, que não tinha medo de enfrentar bandido. Bom, pelo “acidente” ocorrido este ano no Morro da Providência, que resultou na morte de três jovens, entregues a bandidos por membros do Exército brasileiro – que supostamente ali estavam para “ajudar” na execução do programa “Cimento Social” do senador Crivella –, podemos bem imaginar como será esse “enfrentamento” ao crime organizado.
Solange Amaral, candidata do atual prefeito Cesar Maia, anda prometendo às eleitoras que, quando for “a primeira prefeita do Rio”, vai construir o “Hospital da Mulher”. Bom! Muito bom! Mas construir hospitais (e “UPAs” também, alô, Sérgio Cabral) é muito fácil. O difícil é fazê-los funcionar!
Jandira Feghali, do bordão “Jandira já!”: a candidata comunista critica os outros candidatos que não seriam, segundo ela, “identificados com o povo trabalhador” como ela pretende ser. Mas como pode ela dizer isto e em seguida (dia 17/09/08) paralisar com passeata paga (ver matéria do JB on line, “Na passeata por uns trocados”, em http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2008/09/18/eleicoes/na_passeata_por_uns_trocados.html ) o trânsito da Av. Rio Branco em pleno “horário de pique”, prejudicando os milhares de trabalhadores que por lá circulam e dependem do transporte público para chegar em casa? Fala sério!
Para Gabeira, por sua vez, o problema do Rio é “falta de gestão e corrupção”. Fala sério mesmo! E ele falou sério mesmo, cometendo, simultaneamente, dois erros gramaticais imperdoáveis: primeiro, a cacofonia “falta de gestão”, que, ouvida, torna-se “falta digestão”. Realmente! Haja digestão para engolir essas pérolas! Segundo, a frase pode sugerir que, além da tal “digestão”, também está faltando corrupção! Mentira! Está é sobrando...
Mas a pior das piores falas é sem dúvida a do Molon. O candidato petista, apegado que só ele ao número 13, vai à tevê não para apresentar qualquer programa de governo, mas para fazer comentários piegas sobre sua própria família, seu namoro, seu casamento e, por fim, sua entrada na política. Com uma sinceridade a toda prova, ele afirma que seu sonho sempre foi “fazer política”. Ora, tudo o que os eleitores não querem é um “fazedor de política”, pois isso, obviamente, todos os políticos são. O que nós, eleitores, precisamos é de políticos que “façam” hospitais e escolas funcionarem, que “façam” desaparecer o desemprego e as desigualdades sociais. E se der, também, que “façam” campanhas sérias, coerentes com sua prática, bem fundamentadas e com um mínimo de respeito à inteligência dos cidadãos.

Isabel Pires

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