Série mini-resenhas II - O mágico de verdade
Lá vai outra mini-resenha...
BERNARDO, Gustavo. O mágico de verdade. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. 104 p.
Um brasileiro entra no avião e vê, sobre a poltrona que lhe está destinada, uma maleta. Dirige-se ao passageiro ao lado, um português, e pergunta “esta mala é sua?”. O português prontamente responde: “não, é da minha tia, que m’a emprestou para viajar”. Velha conhecida dos brasileiros, a piada também faz parte do repertório humorístico português. No entanto, enquanto por estas bandas os brasileiros riem-se da resposta do português, do lado de lá, na “terrinha”, os portugueses também riem-se a valer, mas da pergunta “óbvia e mal colocada” dos brasileiros, que nunca sabem perguntar exatamente o querem perguntar. Esta história foi contada por Gustavo Bernardo em O mágico de verdade (Rocco, 2006), que, em meio às mágicas poderosas do Mágico de Verdade – apresentadas num programa televisivo, o “Programa de Domingo”, por um inacreditável apresentador que, porém, lembra bastante um outro apresentador “de verdade” –, vai desmontando a nossa percepção e mostrando que existem outras perspectivas, outras formas de “ver”, uma não sendo necessariamente “melhor” que a outra. A partir disso, conceitos como “cá” e “lá” tornam-se apenas relativos. Por meio de delicadíssimos estranhamentos – por exemplo, somos levados a visualizar a estátua do Cristo Redentor sentada no alto Corcovado, na mesma posição do “Pensador”, de Rodin –, embarcamos por instantes na mágica da ficção, ou seja, aquela que permite mergulhar na “verdade do texto” e viajar, junto com o mágico, junto com o apresentador e toda a platéia, no Senhor Tapete, que – segundo momento da viagem – nos leva a refletir sobre aquilo que se revela a cada passo da leitura: a preocupação com a capacidade do espanto.
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