Os jogadores (Minipeça em 2 atos)
Isabel Pires
I ato
(Cenário composto
por duas mesas quadradas, forradas por uma toalha de pano colorido. Sobre cada
uma delas incide um foco de luz. Dois homens, cada um numa mesa, voltados para
a plateia. Jogam xadrez. Quando um fala, o foco de luz do outro se apaga.)
Sua vez.
Quero ver como vai sair desta. Ah! Ah! Ah!
De que está rindo?
É que daqui não posso ver o outro lado da mesa. Você
está engraçado. Parece um apresentador de telejornal... de pijama. Ah! Ah! Ah!
Também não posso ver o seu lado da mesa, mas, com
essa touca na cabeça, você não está menos ridículo. Sua vez.
Ei! Você comeu o meu cavalo.
Eu não comi o seu cavalo. Foi o bispo que comeu o
seu cavalo. Agora, vá se queixar com o bispo. Ah! Ah! Ah!
Ah, é? Com essa jogada, a sua rainha ficou
vulnerável. Veja só!
(Tom
melancólico) Ela era loura e de olhos azuis.
Sim, tinha enormes olhos azuis. Ou devia dizer uns gulosos olhos azuis? Quer dizer, eram mais furta-cor. Ora verdes, ora azuis, não era? Agora, está
com câncer...
Não mexa com a minha rainha. Cuide da sua. É tudo o
que pode fazer agora.
Eu não tenho mais medo da sua rainha. Veja o que
faço com ela.
(Algum tempo
se passa, e os dois não se movem nem falam)
(Ambos)
Não vai jogar?
(As luzes se
apagam, deixando o cenário às escuras.)
FIM DO I ATO
II ato
(Mesmo
cenário. Os atores, porém, trocaram de lugar)
Agora é você.
Por que temos que jogar hoje? Não podemos deixar para
amanhã?
Sim, podemos.
Conhece o ditado que diz não faça hoje o xeque-mate
que pode fazer amanhã?
E também tem outro, que diz que há mais coisas num
tabuleiro do que meras peças de xadrez.
Mas, se não jogarmos, o que faremos?
(As luzes se apagam e o cenário fica totalmente às escuras por instantes. Os atores saem de cena. O foco de luz sobre as mesas vazias se acende, mas não há mais jogadores).
FIM DO II ATO
(As luzes se apagam e o cenário fica totalmente às escuras por instantes. Os atores saem de cena. O foco de luz sobre as mesas vazias se acende, mas não há mais jogadores).
FIM DO II ATO
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