Treze dias longe do sol - a minissérie, ou: cadê o caminhão que estava aqui?
A nova série da Globo, a estrear na TV aberta somente em janeiro de 2018 mas já disponível em outras plataformas, é uma espécie de tubo de ensaio, onde se reúnem vários ingredientes, nenhum, porém, exatamente novo...
Produzida em 10 capítulos, com roteiros de Elena Soárez e Luciano Moura, e direção geral deste último, a série combina elementos retirados do desabamento do edifício Palace II, ocorrido em 2002 na Barra da Tijuca (segundo a própria autora), da derrubada das Torres Gêmeas (World Trade Center), ocorrida em 11/09/2001, e do soterramento, numa mina, de 33 operários chilenos, em agosto de 2010, com elementos de filmes americanos, que retratam a persistência e, ao mesmo tempo, o dilema de "bombeiros herois". Treze dias longe do sol traz, também, algo que lembra o filme argentino Mundo Grúa (1999, direção Pablo Trapero), que se passa em uma obra e conta a história de um músico fracassado, ex-baixista que, aos 50 anos de idade, diante da falta de perspectiva e da crise econômica, torna-se operário de uma construção civil. Sem esquecer, claro, das cenas a la Titanic.
A clássica cena de mulher-tendo-filho-em-condições-adversas, que já vem se tornando comum nas produções globais, não poderia ficar de fora da história da minissérie, assim como a eterna corrupção brasileira, que já se incorporou definitivamente à História do Brasil, sendo incansavelmente retratada pela ficção pátria, aparecendo até mesmo, em pouca escala, é verdade, no ingênuo filme Garota Dourada, da garotada dourada da década de 80 brasileira (que não estava nem aí para protetor solar). Ainda no âmbito da ficção, não poderíamos deixar de lembrar o clássico-dos-clássicos, Germinal, de Émile Zola, surgido em 1885 e inspirador, no Brasil, de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. Um dos fundadores da corrente naturalista na literatura, o livro de Zola, assim como a série Treze dias longe do sol, contam, ambos, a história de operários contratados ao abandono da lei (no caso francês, por uma mina de carvão), tendo como ponto em comum ainda o soterramento de alguns operários e a história romântica de um casal. Enfim, na série global, tudo em clima de déjà vu.
Com ótimo elenco, escolhido a dedo, têm destaque as atuações da veterana Débora Bloch, no papel de diretora financeira (e corrupta) da construtora, e do veteraníssimo Emiliano Queiroz, numa participação relâmpago porém excelente, merecendo injustamente, por parte da direção, crédito do seu nome, na abertura, somente em um dos capítulos finais. Selton Melo faz o que se espera de Selton Melo. Fabricio Boliveira desempenha lindamente seu papel de bombeiro-heroi, embora um pouco norte-americanizado. Enrique Diaz poderia ser mais convincente. E muito convincentes estão Demick Lopes (Zica), Pedro Wagner (Altair) e Antônio Franco (Jesuíno). A menininha do filme, no papel de filha do engenheiro matemático que fez os cálculos da obra (Enrique Diaz), é cativante, assim como a atuação de Carolina Dieckmann, na pele da médica Marion.
A produção peca por algumas falhas, como na cena em que o capitão Marco Antônio, vivido por Fabricio Boliveira, discute com o seu superior, diante dos escombros do desabamento, após o capitão ter mandado parar as máquinas que iriam limpar os destroços. Na cena, vemos o capitão dos bombeiros e seu superior, este último de óculos escuros, em frente a um imenso caminhão azul. Ocorre que, quando o rosto do superior do capitão aparece em close, vemos, refletida nas lentes dos seus óculos de sol, apenas a câmera gravando, evidenciando assim a edição.
Apesar de não trazer grandes novidades, a minissérie Treze dias longe do sol sem dúvida vale a pena ser vista.
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