Wednesday, November 17, 2010

Série minirresenhas V - Vidas e doutrinas de filósofos ilustres

LAÊRTIOS, Diôgenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Trad. do grego, introdução e notas Mário da Gama. 2. ed., reimpressão. Brasília: Editora da UnB, 2008. 360 p.



Terminada enfim a leitura de Vidas e doutrinas de filósofos ilustres, escrito por Diógenes Laêrtios no século III a. C., impressiona o esforço destes antigos e ilustres filósofos gregos que, numa época em que morria-se de piolhos (!) e a paralisia era coisa normalíssima, procuravam a todo custo preservar e defender suas ideias. Assim, podemos também compreender melhor o conceito de "valor de eternidade" que Walter Benjamin forjou em sua famosa comparação das esculturas gregas com a "reprodução técnica" da arte contemporânea. Do mesmo modo, impressiona a descrição que faz Diógenes dos seus personagens, transmitindo-nos tamanha vivacidade, como nesta cena, entre Crates, o cínico, e Zenon, o fundador do estoicismo:

“Seu encontro com Crates ocorreu nas seguintes circunstâncias: após haver comprado púrpura na Fenícia, Zenon sofreu um naufrágio nas proximidades do Peiraieus; dirigiu-se então a Atenas (nessa época Zenon tinha trinta anos de idade) e sentou-se na loja de um livreiro. Lendo o segundo livro das Memorabília de Xenofon, sentiu tanta satisfação que perguntou onde seria possível encontrar homens como Sócrates. “Naquele exato momento Crates passava por lá, e o livreiro apontou para o filósofo e disse: ‘Segue aquele homem!’ Desde então ele se tornou discípulo de Crates; seu espírito mostrou-se fortemente inclinado para a filosofia, porém era muito tímido para adaptar-se ao despudor cínico. Percebendo esta resistência e querendo superá-la, Crates deu-lhe uma panela cheia de lentilhas para levar ao longo do Cerameicôs; vendo que ele estava envergonhado e tentava esconder a panela, Crates partiu-a com um golpe de seu bastão. Zenon começou a fugir, enquanto as lentilhas escorriam de suas pernas, e Crates disse-lhe: ‘Por que foges, meu pequeno fenício? Nada te aconteceu de terrível.’”. (p. 181)


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