Teses sobre Feuerbach - Marx e Engels
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (I – Feuerbach). Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Editorial Grijalbo, 1977.
Palavras-chave: materialismo histórico, praxis, relações sociais entre os indivíduos, condições materiais de existência, modo de produção, alienação, consciência.
A ideologia alemã
se constitui numa resposta crítica à filosofia neo-hegeliana, surgida na
Alemanha da primeira metade do século XIX, e que tinha em Ludwig Feuerbach o
seu principal representante, ao lado de Bruno Bauer e Max Stirner. Nesta obra
inacabada, composta de “rascunhos” e “anotações”, Marx e Engels expõem sua
concepção materialista da história, de bases científicas, em oposição à
concepção “idealista” de Feuerbach. Ao contrário de Feuerbach, que vê na ação
do indivíduo isolado o princípio da realidade, Marx e Engels consideram a ação
dos homens em sociedade, ou seja, o conjunto das relações sociais, que
constituem uma determinada praxis. Eles
partem do princípio de que as relações sociais entre os indivíduos, e entre
estes e a natureza, são determinadas historicamente, a partir das condições
materiais de existência herdadas das gerações passadas. É mediante a praxis, ou seja, a ação dos indivíduos em
sociedade, que essas condições materiais serão desenvolvidas, constituindo
desta forma o “modo de produção” de uma dada sociedade. A seguir, apresentamos
as famosas “Teses sobre Feuerbach”, que
integram A ideologia alemã, de Marx e
Engels.
Teses sobre Feuerbach*
(Ad Feuerbach, 1845)
I
O principal defeito de todo materialismo até aqui
(incluindo o de Feuerbach), consiste em que o objeto, a realidade, o sensível,
só é apreendido sob a forma de objeto ou de intuição, mas não como atividade
humana sensível, como praxis, não
subjetivamente. Eis porque, em oposição ao materialismo o aspecto ativo foi
desenvolvido de maneira abstrata pelo idealismo, que, naturalmente, desconhece
a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis —
realmente distintos dos objetos do pensamento: mas não apreende a própria
atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em A Essência do Cristianismo, considera apenas o comportamento
teórico como o autenticamente humano, enquanto que a praxis só é apreciada e fixada em sua forma fenomênica judaica, suja. Eis porque não compreende a importância da atividade “revolucionária”,
“prático-crítica”.
II
A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na praxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento isolado da praxis — é uma questão puramente escolástica.
III
A doutrina materialista sobre a alteração das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são alteradas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado. Ela deve, por isso, separar a sociedade em duas partes — uma das quais é colocada acima da sociedade.
A coincidência da modificação das circunstâncias com
a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e
compreendida racionalmente como praxis
revolucionária.
V
Feuerbach, não satisfeito com o pensamento abstrato, quer a intuição; mas não apreende a sensibilidade como atividade prática, humano-sensível.
VI
Feuerbach dissolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade, é o conjunto das relações sociais.
Feuerbach, que não empreende a crítica dessa
essência real, é por isso forçado:
1. A abstrair o curso da
história e a fixar o sentimento religioso como algo para-si, e a pressupor um
indivíduo humano abstrato, isolado.
2. Por isso, a essência só pode
ser apreendida como “gênero”, como generalidade interna, muda, que liga de modo
natural os múltiplos indivíduos.
VII
Por isso, Feuerbach não vê que o próprio “sentimento religioso” é um produto social e que o indivíduo abstrato por ele analisado pertence a uma forma determinada de sociedade.
VIII
IX
O extremo a que chega o materialismo intuitivo, isto é, o materialismo que não apreende a sensibilidade como atividade prática, é a intuição dos indivíduos singulares e da sociedade burguesa.
O ponto de vista do velho materialismo é a sociedade
civil; o ponto de vista do novo é a sociedade humana ou a humanidade social.
XI
Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo.
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