Tuesday, November 08, 2011

Um elefante numa loja de porcelanas

Isabel Pires 
De pedra-sabão, tinha uns quinze centímetros de altura por uns vinte de comprimento. Pesado, parecia mais uma arma que um bibelô. Por curiosidade, ela perguntou o peso. “Tudo isso?”. Espantada, mudou-o de mão. Perguntou o preço. Nem caro, nem barato. Recolocou-o no lugar, entre corujas e cisnes também de pedra-sabão. A vendedora ficou apreensiva. 
— Não vai levar o elefantinho? 
— Ainda não me decidi – mentiu. 
Os olhos do elefante, esculpidos na pedra, fixavam-na. Ela disfarçou o quanto pôde, e, de um bote, atirou-se para fora da pequena loja. No entanto, precisava daquele bibelô. Em casa, reservava lugar para ele, na estante, entre outros bibelôs. Dia seguinte, retornou à loja. Foi direto aos artesanatos de pedra-sabão. Empalideceu, estacando diante de corujas que a olhavam de esguelha. 
— Já escolheu? – quis saber a moça ao seu lado, perseguidora. 
— O elefantinho que estava aqui ontem?... Foi vendido? – ela apontava para um vago lugar, entre dois cisnes. 
A vendedora abriu um sorriso claro e asseado. 
— Um momento – pediu. Voltou com o pesado objeto, depositando-o com cuidado nas mãos dela. – Alguém o havia reservado. Mas como você está mesmo interessada... 
Ela virava e revirava o elefantinho em suas mãos, com medo e alegria. “É ele”, pensou. Súbito, seus olhos esbarraram numa das patas dianteiras do bibelô. Mostrou-a para a vendedora. 
— Está quebrada!... 
A pequenina perna de pedra-sabão, sólida e frágil. Quebrada. O sorriso claro e asseado da vendedora voltou a iluminar a pequena loja. 
— Não! Veja, não está quebrada. É que, com certeza, o bloco de pedra usado para esculpir o elefantinho não era do tamanho exato, e foi preciso completar a perninha com um pedaço. Isso acontece demais. Mas não é defeito, de jeito nenhum – finalizou, devolvendo a ela o objeto.
Embora colada com perfeição ao corpo do elefante, a perna evidentemente não fazia parte dele. Fraquejando mais uma vez, porém resoluta, ela depositou o elefantinho na prateleira, agarrando firme um cisne de pescoço longo, desajeitado e triste. 
— Ah! Vai ficar com o cisne... Também é lindo!
A vendedora, ainda sorrindo, pegou um pequeno bloco de papel e tirou a nota. 
— Quer pagar no caixa, por favor? Obrigada. 
Por trás do balcão, a dona da loja fazia os embrulhos, simples e para presente. 
— Só? – perguntou, embrulhando o cisne para presente. 
— Eu queria o elefantinho, mas está com a perna quebrada... 
Simples, a mulher detrás do balcão falou: 
— É, isso acontece. É o transporte, sabe. Esse artesanato vem de longe. Às vezes, aqui mesmo, na loja, um ou outro acaba se partindo. Tem sempre algum freguês desajeitado, que deixa cair alguma coisa. Que pena! – lamentou, abanando a cabeça. 
Ela tomou finalmente o embrulho nas mãos. Pesava um pouco, embora não fosse o elefantinho. Calma e vagarosamente, saiu da loja, deixando para trás, sem piedade, o pequeno elefante de pedra-sabão.

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