Tuesday, June 23, 2009

Série "cartões postais da cidade maravilhosa" II - Pão de Açúcar

Pão de Açúcar antigo. Foto de autor desconhecido.
Fonte:
http://www.starnews2001.com.br/bondinho_rio.html

"Na porta já havia alguns visitantes à espera do bonde. Como não estivesse o veículo no ponto, foram indo ao longo da fachada do manicômio até lá. Em meio do caminho, encontraram, encostada no gradil, uma velha preta a chorar. Coleoni, sempre bom, chegou-se a ela:
- Que tem minha velha?
A pobre mulher deitou sobre ele um demorado olhar, úmido e doce, cheio de uma irremediável tristeza, e respondeu:
- Ah! Meu sinhô!... É triste... Um filho tão bom, coitado!
E continuou a chorar. Coleoni começou a comover-se; a filha olhou-a com interesse e perguntou no fim de um instante:
- Morreu?
- Antes fosse, sinhazinha.
E entre lágrimas e soluços contou que o filho não a conhecia mais, não lhe respondia às perguntas; era como um estranho. Enxugou as lágrimas e concluiu:
- Foi coisa-feita.
Os dois afastaram-se tristes, levando n'alma um pouco daquela humilde dor.
O dia estava fresco e a viração, que começava a soprar, enrugava a face do mar em pequenas ondas brancas. O Pão de Açúcar erguia-se negro, hirto, solene, das ondas espumejantes, e como que punha uma sombra no dia muito claro."

Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home