Thursday, August 18, 2005

Lois Lane

Agora mesmo vi um pedaço da capa, balançando perto da janela. Disseram que não, que tinha sido mera impressão, e que era apenas a cortina, refletindo os raios vermelhos do sol. Mas eu sei, era ele. Certamente tem receio de vir me ver, assim como estou. O tempo passou para mim, não passou para ele. Minhas rugas e meus cabelos de prata devem entristecê-lo, até magoá-lo. Outro dia foi a campainha. Pensei ser ele, em seu humano disfarce. Mas me garantiram que não havia, parado à porta, nenhum sujeito tímido, desajeitado e míope. As pessoas à minha volta se espantam, quando aceno para a parede. Porque sei que de algum ponto do céu ele me observa, talvez oculto entre nuvens pacatas. E quando os dias se alongam, ficam compridos de não se poder aturar, sei também que é ele – a Terra, suave girassol azul sobre seus ombros – retardando em ínfimos segundos a nossa rota no espaço.

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