Friday, May 20, 2005

Victor Giudice

“Se quisesse, poderia mentir ao mundo as charlatinices do cotidiano”. 
(Victor Giudice) 

Falecido a 22 de novembro de 1997 aos 63 anos de idade, o escritor Victor Giudice, sob muitos aspectos, contribuiu para a formação daquilo que hoje é considerada como "vanguarda literária brasileira", celebrada em coletâneas como "Geração 90". Em seu livro de contos Necrológio, publicado em 1972, por exemplo, encontramos, no conto "Carta a Estocolmo", o germe da idéia que ele iria aprofundar no conto "O museu Darbot" (este último publicado na coletânea homônima em 1994, merecedora do prêmio Jabuti de 1995) - ou seja, a crítica às "charlatinices", seja no campo da ciência ou das artes. No primeiro conto, um físico respeitável, indicado para o prêmio Nobel, dedica 50 anos de sua vida à busca da precisão na medida do tempo, concluindo, porém, que o seu trabalho foi "tão inútil como se não durasse coisa nenhuma, de vez que o tempo, sendo um fenômeno estúpido e irracional, é por conseguinte, irrelevante". O conto "O museu Darbot", por sua vez, trata da mitificação de um pintor francês desconhecido, supostamente revelado ao mundo por um jovem estudante de belas artes que, após ter enriquecido às custas das telas de "Darbot", e corroído pela consciência, revela, em suas lembranças sobre o assunto, que, afinal, tudo não passou de uma bela fraude. No entanto, não são somente as ciências e as artes que são satirizadas por Giudice. As próprias "charlatanices" do cotidiano estão presentes também no conto(?) "Oz gueijos", também de Necrológio, em que vemos um casal "de sociedade" promover uma "festinha tíssima íntima de vinhos e queijos" à uma pintora baiana. O próprio "sotaque" das personagens dão a exata dimensão da sátira exercida pelo autor: "— Vamos zervir oz vinhos enguando esberamos. Homem Gordo reacendeu-se. Mulher de Branco braço dado a Homossexual acompanhou a investigação: — em Bariss. Ajo gue não ezdeve no úldimo vernizage. Marimagdo surpreendeu-se na observação: — Da Bibelô? Mas gláááro, glááro, glaro gue ezdive. Denho duas bezas da bindora baiana. Ezda e aguela. — Divinas. Gue rebrezendam? — Uma, me bareze gue é ezda, rebrezenda um dema de gandomblé. Guando àguela, — Oz vinhos."

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